Reunião do Grupo de Estudos e Pesquisa Comunicação, Educação e Sociedade/ GECES
Texto: CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação, economia, sociedade e cultura. Vol I. Tradução: Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
Capítulo I: A Revolução de Tecnologia da Informação
No primeiro capítulo Castells trata da revolução da tecnologia da informação, incluindo como parte desta tecnologia a microeletrônica, computação (hardware e software), telecomunicações e optoeletrônica.
Ele trabalha a importância histórica desta revolução com a Revolução Industrial do século XVIII, que induziu uma descontinuidade nas relações da economia, sociedade e cultura. E tomando por base as duas Revoluções Industriais, na qual a primeira tinha uma característica do uso da informação, utilizando esta na aplicação de conceitos preexistentes e não na ciência como foi o caso da segunda (depois de 1850), que precisou da ciência para desenvolver e promover inovações. Tendo na tecnologia da informação em relação a esta revolução a importância que as novas fontes de energia representaram para as revoluções industriais, indo do motor a vapor à eletricidade.
Uma característica marcante desta revolução tecnológica é a forma com que utiliza o conhecimento e a informação para gerar conhecimentos e dispositivos de processamento/comunicação da informação a fim de retroalimentar de forma cumulativa a inovação e o seu uso.
No tópico seguinte Castells aborda algumas lições da Revolução Industrial para a nova revolução. A primeira revolução, teve a Inglaterra como berço, mas acontecia em outros locais da Europa e que os conhecimentos necessários para esta revolução já estava disponíveis cerca de cem anos antes da mesma, aguardando apenas uma maturidade da sociedade para poder utilizá-los, ou do surgimento de autodidatas para por em prática. Já a segunda revolução muda seu centro para os EUA e para a Alemanhã, por depender do conhecimento científico (onde estavam sendo desenvolvidos) e onde foram criados produtos químicos, elétricos e de telefonia.
Depois Castells traz uma sequência histórica da revolução da tecnologia da informação de forma muito detalhada, na qual irei me deter aos principais fatos para o entendimento desta evolução e suas implicações na revolução tecnológica, não que as demais não tenham influenciado esta revolução. Tendo nos três campos da tecnologia que construíram a tecnologia baseada na eletrônica, que foram: microeletrônica, computadores e telecomunicações.
Ver no slide esta evolução.
O modem foi revolucionário para o desenvolvimento da Internet por possibilitar a transferências direta de arquivos entre computadores sem a necessidade de passar por um sistema principal. O grupo “the hackers”, criador do modem, divulgou a tecnologia gratuitamente, por fazer parte dos ideais da contracultura de difundir de forma gratuita o conhecimento e possibilitar o crescimento da comunicação através da Internet. Em outro momento foi criado o software Usenet News, que era um fórum on-line sobre informática, onde da mesma forma foi divulgado gratuitamente.
Segundo Castells (1999, p. 85) “Ainda era necessário uma convergência tecnológica para que os computadores se comunicassem: a adaptação do TCP/IP ao UNIX, um sistema operacional que viabilizava o acesso de um computador a outro.”
A forma da contracultura de utilizar a tecnologia fez com que surgissem os BBS, onde era apenas preciso um computador, modem e linha telefônica para se conectar e criar as “comunidades virtuais” de Howard Rheingol.
É na década de 1990 que a internet dá um novo salto com o desenvolvimento da World Wide Web – WWW, desenvolvida pela equipe de Tim Berners Lee em Genebra, baseando-se no trabalho de Ted Nelson sobre “hipertextos”, que em 1974 incitava o povo a utilizar o computador para benefício próprio. Foi quando criaram a linguagem de marcação de hipertexto, mais conhecida como HTML e um novo protocolo para transferir o HTML, o HTTP.
Com isto começa uma organização na busca de informações através de sites, que inicialmente fora apenas desenvolvidos por universidades e institutos. Para que estes sites fossem visualizados precisava de um software específico, o browser. O primeiro browser com uma interface gráfica foi o Mosaic (1992), que foi desenvolvido por Marc Andreessen, um estudante e adepto da contracultura que distribuiu gratuitamente o Mosaic pela Web.
Neste mesmo período o “[…] poder do processamento, os aplicativos e os dados ficam armazenados nos servidores da rede, e a inteligência da computação fica na própria rede: os sítios web se comunicam entre si e têm à disposição o software necessário para conectar qualquer aparelho a uma rede universal de computadores.” (CASTELLS, 1999, p. 89)
Castells ainda coloca sobre “o contexto social e a dinâmica da transformação tecnológica”, quando incita alguns questionamentos:
“Porque as descobertas das novas tecnologias da informação concentram-se em um só lugar nos anos 70 e, sobretudo, nos Estados Unidos?” (CASTELLS, 1999, p. 96)
Percebe-se que o argumento militar muito creditado como responsável por este desenvolvimento da tecnologia ocorreu nos anos 60 financiado pelas instituições militares, sendo uma preparação para a tecnologia norte-americana avançar, mas não diretamente nos anos 70. E precisamente com o programa “guerra nas estrelas” em 1983.
Segundo Castells (1999, p. 99) “[…] a revolução da tecnologia da informação dependeu cultural, histórica e espacialmente de um conjunto de circunstâncias muito específicas cujas características determinaram a sua futura evolução.”
Esta revolução não apenas aconteceu nos EUA, mas precisamente no Vale do Silício, onde foram criadas circunstâncias para o desenvolvimento desta revolução nesta área específica.
Neste vale encontrava-se: os conhecimentos tecnológicos mais recentes; engenheiros e cientistas com bastante talento oriundos das universidades da região; financiamentos do departamento de defesa e de fundos garantidos; uma rede eficiente de capital de risco e na fase inicial a importância da Universidade de Stanford.
É o diretor de Stanford que implanta o Parque Industrial de Stanford na área hoje conhecida como Vale do Silício, além de financiar alguns de seus alunos da pós-graduação para criar empresas que estariam alocadas neste parque industrial, uma delas a conhecida HP. Esta localidade passou a ser objeto de desejo dos inovadores e empreendedores da época, pois para montar sua empresa neste parque, Stanford teria que julgá-la como uma empresa inovadora.
Com a instalação de empresas inovadoras com novos conhecimentos na área tecnológica a troca de experiência foi uma das molas mestre para o desenvolvimento do Vale, quando através de conversas em bares e restaurantes se difundia as inovações tecnológica, muitas vezes mais do que nos seminários de Stanford. As empresas de capital de risco foram fundamentais para o desenvolvimento do Vale do Silício por injetar cerca de 50% do capital circulante em 1988. Outro fator importante é a capacidade de absorver novos ramos de atividades, como a Internet, em que algumas das primeiras empresas do ramo iniciaram suas atividades no Vale.
Aliada a tudo isso, as empresas aprendiam fazendo no processo de tentativa e erro e de um ambiente favorável com: centro de pesquisas; instituições de ensino superior; empresas de tecnologia avançada; boa rede de fornecedores (bens e serviços) e empresas com capital de risco para financiar os empreendimentos.
Seria possível reproduzir este modelo em qualquer parte do mundo?
Castells (1999) demonstra que este modelo é o que é encontrado nos locais tidos como centros tecnológicos e com uma observação, a de estar localizada em uma metrópole e que os conhecimentos gerados estão direcionados à produção industrial e aplicações comerciais desta metrópole.
Outro fator comum é a figura do Estado como fomentador do desenvolvimento tecnológico destas localidades, com seus projetos econômicos e militares. Com isso, Castells (1999, p. 107) afirmar que “[…] foi o Estado, e não o empreendedor de inovações em garagens, que incentivou a revolução da tecnologia da informação tanto nos Estados Unidos como em todo mundo.”
O paradigma tecnológico para Castells (1999, p. 108) “[…] ajuda a organizar a essência da transformação tecnológica atual à medida que ela interage com a economia e a sociedade.”
Ele coloca cinco características deste paradigma: o primeiro trata da informação como matéria-prima; o segundo fala da penetrabilidade dos efeitos da tecnologia em nossas vidas; o terceiro é a lógica das redes, onde é necessária para estruturar o não-estruturado, mantendo a flexibilidade; o quarto, trata da flexibilidade, nos processos reversíveis e possibilidades de modificações na estrutura organizacional e a quinta trata da convergência de tecnologias buscando uma integração.
“Assim, a dimensão social da revolução da tecnologia da informação parece destinada a cumprir a lei sobre a relação entre a tecnologia e a sociedade […] ‘a primeira lei de Kranzberg diz: A tecnologia não é nem boa, nem ruim e também não é neutra.’ É uma força que provavelmente está, mais do que nunca, sob o atual paradigma tecnológico que penetra no âmago da vida e da mente.” (CASTELLS, 1999, p. 113)
Próxima reunião de estudos (31/05/12): |
Texto: CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação, economia, sociedade e cultura. Vol I. Tradução: Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
Capítulo 2 – A Revolução de Tecnologia da Informação – Elbênia Marla Ramos Silva