Reunião do Grupo de Estudos e Pesquisa Comunicação, Educação e Sociedade/ GECES
Texto: KAPLÚN. Mário. Uma pedagogia de La comunicacíon. Ediciones De La Torre. MADRID, 1998.
Segunda parte: Potenciar emisores
Por: Soraya Cristina Pacheco de Meneses
Káplun em Uma pedagogia de La comunicacíon (1998), defende que a educação precisa estar aberta às contribuições da comunicação, educadores e comunicadores devem buscar através de duas colisões sucessivas, se aventurar nesse novo campo de conhecimento e ação chamada Comunicação Educativa, investigando de que forma entendê-lo, e como poderá contribuir para uma nova concepção de educação, então, é tarefa necessária construir pontes entre educação e comunicação, explorando a forma em que ambos os lados convergem e reciprocamente se alimentam.
O autor destaca duas linhas de compreensão dessa relação das dimensões educação/comunicação, Na primeira, intitulada “tecnológica” ou “modernizadora”, estão aqueles a quem a relação comunicação /educação sugere instantaneamente, equipamentos, instalações, o diálogo entre Educação e Comunicação está longe de ser até agora produtivo. O mais freqüente foi a educação compreender a comunicação em termos meramente instrumentais. Assim, quando no planejamento educacional é considerado necessário o uso de mídia na educação, materiais educativos produzidos, se recorre à comunicação técnica, e infelizmente, os profissionais da mídia foram se acostumaram a serem vistos como simples prestadores de técnica.
A segunda linha, em reação a este reducionismo, defende que – Educação e comunicação são a mesma coisa; – Educação é sempre comunicação; – Toda a educação é um processo de comunicação.
Quando um conceito é inflado para ficar como um todo está em grave perigo de se tornar nada , tão abrangente que acabam vazia de conteúdo, ou seja, a partir desse conceito, é dificil construir a ponte tão necessária entre as duas dimensões e descobrir o que pode aportar a comunicação para o processo educacional, entender por que eles precisam e o que pode vir deles de enriquecimento.
É importante que se ultrapasse esta visão reducionista, e perceba que a Comunicação Educativa engloba não só o campo da mídia, mas também, o tipo de comunicação presente em todo processo educativo, com ou sem o emprego de meios. Ou seja, compreenda que a Comunicação não é um simples instrumento midiático e tecnológico, mas é principalmente um componente pedagógico interdisciplinar e campo de conhecimento, para a Comunicação Educativa, entendida desse modo, convergem uma leitura da Pedagogia a partir da Comunicação e uma leitura da Comunicação a partir da Pedagogia.
O ensaio de Kaplún traz a discussão sobre a transformação de um educando ouvinte em um educando falante por meio do desenvolvimento de práticas educativas e comunicativas na escola, que necessita rever sua posição diante da nova abordagem da trilogia Expressão, linguagem e pensamento.
Sobre a comunicação educativa instrumentalizada, Káplun nos fala que,
Ya la actual enseñanza a todos los niveles -desde la escuela primaria a la terciaria- está marcada por esa matriz. A medida que la clientela crece sin que los servicios educativos se amplíen al mismo compás -porque ello supondría ingentes inversiones que los gobiernos no pueden o no quieren realizar- las aulas se van superpoblando, la enseñanza masificándose, y hay cada vez menos espacio para la comunicación y los intercambios entre los educandos, (KÁPLUN, 1998, p. 206).
Então, com escolas superlotadas, com ensino massificado, construída sob o objetivo de transmitir informações e formar recursos humanos para o mercado de trabalho, sobra pouco espaço para a comunicação, diálogo e trocas entre os educandos.
Até recentemente, o caráter social e comunitário da educação era não só considerado como uma condição natural, inerente à mesma, mas também como um valor. A escola existia por uma razão pragmática , que é a necessidade de atender simultaneamente a uma quantidade de educandos em um mesmo espaço físico e também por uma razão pedagógica, como espaço gerador da socialização e possibilitador de interações grupais, valorizadas como um componente básico e imprescindível dos processos educativos. Lembrando as propostas de Dewey, valorizando do trabalho em equipe; os aportes metodológicos de Freinet, centrados no intercâmbio de jornais escolares produzidos e comunicados entre os alunos, organizados em redes de interlocução, como marco propício para o desenvolvimento da auto-expressão dos escolares; o construtivismo sociointeracionista de Vygotsky e Bruner, para quem a aprendizagem é sempre um produto social.
Se a escola vem perdendo sua função intercomunicativa, podemos pensar num crescimento do ensino á distância (autoaprendizagem), seguindo os critérios de economia, produtividade e automação, tendo como consequências pedagógicas: a erradicação da expressão. O teórico de ensino à distância Sarramona, coloca sobre a questão da comunicação do aluno dessa modalidade de ensino, que só duas situações são possíveis: o educando em diálogo com o ensino ou estudando sozinho.
Uma alternativa seria um processo bidirecional onde a mensagem pudesse retornar do receptor ao emissor, com fluidez, que é pouco viável, ou dar ênfase às fontes de matérias de estudo que estimulem a comunicação do estudante consigo mesmo. Káplun diz que:
Cobran así sentido en un contexto economicista y pragmático aquellas estrategias educativas precedentemente reseñadas. Es evidente que un educando formado en la individuación, el aislamiento y el silencio no es un sujeto capacitado para asumir el perfil de trabajador polivalente y participante que se acaba de delinear. En consecuencia, es lícito afirmar, también desde las categorías de la productividad y la economía, la necesidad para una sociedad industrializada de una fuerza de trabajo dotada de estas calidades y competencias. (KAPLÚN, 1998, p. 219)
Não é de surpreender, então, que, com a revolução tecnológica, esse processo ascendente de individualização e de fortalecimento do paradigma da informação venha a culminar nessa “sala de aula virtual”, na qual um educando isolado, em total solidão, poderá abrir as comportas a um volume torrencial de informação, o que supostamente o habilitará a apropriar-se do conhecimento. Mesmo esse mínimo contato com um supervisor ou tutor, que alguns metodólogos tentaram preservar no ensino a distância, é eliminado, para ser substituído por bases de dados informatizadas. A “sala de aula virtual” institui um educando que estuda sem ver ninguém, sem falar com ninguém: privado de interlocutores fica confinado a um perene silêncio. E como desenvolver a capacidade expressiva nesse contexto?
Entendendo que a capacidade expressiva significa um domínio do tema e da matéria discursiva, e se manifesta por meio de clareza, coerência e segurança. A linguagem, cuja função primária é a comunicação e se adquire no intercâmbio social, entra em uma indissolúvel relação com a capacidade de generalizar o que se fala com base na atividade do pensamento (Vigotsky, 1934). Kaplún chama então a atenção para o paradigma da aprendizagem solitária, pois acredita que é mais fácil refletir, em companhia do que sozinho.
Então, como o sujeito educando adquire sua competência linguística, isto é, o domínio e a apropriação dessa ferramenta indispensável para construir o pensamento e conceitualizar suas aprendizagens? Segundo Vigotsky (1934), as categorias de estruturação do pensamento procedem do discurso e do intercâmbio, diante deles o ser humano se apropria desses símbolos culturalmente elaborados – as palavras – que lhe permitem comunicar-se e representar os objetos, ou seja, seu pensamento. A construção do conhecimento e sua comunicação não são etapas sucessivas, mas o resultado de uma interação.
Perguntamos então, se a sociedade atual está sendo realmente atendida em suas demandas por um ensino individualizado.
As mudanças tecnológicas aceleradas já não nos possibilita saber que tipo de trabalho enfrentará o educando, no mercado de trabalho, quantas vezes ele mudará ao longo de sua vida. A escola deve prepará-lo mais para o imprevisto do que para cumprir a norma. Deve pensar num sujeito eminentemente social, com capacidade de se adequar á nova organização do trabalho, com seus sistemas de flexíveis (círculos de qualidade, trabalho em equipe, ilhas de produção…); requalificação dos trabalhadores, descentralização produtiva, rotação, ampliação e enriquecimento de tarefas e a implantação de grupos semi autônomos de produção. Ou seja, um novo tipo de trabalhador com Competência comunicativa. Um educando formado na individualidade e isolamento, não é capaz de assumir o perfil do trabalhador polivalente.
Al compás de las nuevas demandas de la sociedad productiva la prospección lleva pues, pensar más que en una comunicación educativa en una educación comunicante, toda ella, permeada y atravesada por el eje comunicacional. En síntesis, lo que definirá la concepción de Comunicación Educativa por la que se opte en los años venideros será el valor que ésta le asigne a la formación de la competencia comunicativa y a la expresión de educando en el proceso de apropiación del conocimiento, la medida en que siga concibiéndolo como un educando-oyente o se proponga constituirlo como un educando-hablante. (KAPLÚN, 1998, p. 222)
A comunicação educacional na nova matriz seria uma Educação estimuladora da iniciativa e da criatividade dos educandos, proporcionando sua autoexpressão, que impulsionará a adquirir enriquecimento da linguagem e da competência comunicativa. Ver a comunicação não apenas como uma ferramenta auxiliar, mas como um componente pedagógico e metodológico básico e não apenas à serviço do ensino, mas acima de tudo a serviço da aprendizagem.
Em suma, o que vai definir o conceito de Comunicação Educativa para os próximos anos será o valor atribuído à formação da competência comunicativa e a expressão do aluno no processo de apropriação do conhecimento, como também para continuar concebendo-o como um aluno-ouvinte ou propor constituí-lo como aluno-falante.
Próxima reunião de estudos (10/05/12): |
Texto: CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação, economia, sociedade e cultura. Vol I. Tradução: Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
Prólogo – A rede e o Ser – Albano de Goes Souza
Capítulo 1 – A Revolução de Tecnologia da Informação – Alexandre Meneses Chagas